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Regresso ao Passado- George

Franzino, esguio e leve. Um ‘trequartista’ com apetência pelo golo, sem amarras, livre pelo campo, criando e abrindo espaços nas defensivas contrárias, servindo o ponta de lança com passes de morte que conduzem, inequivocamente, ao golo. George entra na galeria de notáveis que passaram e encantaram o povo açoriano. Para a memória ficam as pinceladas de classe, os passes que percorriam o buraco da agulha, espalhados pelos mais de 100 jogos com a camisola dos bravos açorianos.

 

A vinda para Portugal em busca de uma vida melhor

 

‘Quando o mister Manuel Fernandes me convidou a ingressar no CD Santa Clara eu estava no América RN, emprestado pelo Flamengo. Recebi o convite depois de um jogo que fiz contra o Bahia. Nem pensei duas vezes. A minha família, na altura, passava por algumas dificuldades financeiras e encarei o convite como uma oportunidade para lhes ajudar. Foi uma decisão feliz.’

 

Do Rio… para os Açores

 

‘A adaptação foi fantástica. Os Açores é uma terra fantástica, muito calma, muito pacífica e as pessoas são todas muito calorosas. Vinha da violência do Rio… e chego aos Açores e é tudo tranquilo. Um paraíso autêntico. Gostei muito. Fui muito bem recebido por todos. O Presidente Paulino Pavão, o Sr. Carlos Almeida, o prof. Manuel Fernandes… todo o grupo me acolheu com muito carinho e fui muito feliz no CD Santa Clara’.

“Todos tinham respeito pelo nosso trabalho e acarinhavam-nos imenso.”

A Família açoriana

 

‘Costumo dizer que encontrei aí um ambiente muito familiar. As pessoas não acreditam mas havia um clima de grande proximidade com os adeptos. Eu tomava café com os nossos adeptos, o povo açoriano abordava-me muito. Cheguei a passar o Natal e Ano Novo em casa de torcedores. Todos tinham respeito pelo nosso trabalho e acarinhavam-nos imenso.’

 

O homem das assistências

 

‘Joguei no ataque várias vezes. Sentia-me muito confortável a atuar nas costas do ponta de lança, aproveitando os espaços das equipas adversárias e fazendo uso da minha velocidade. Às vezes o passe antes do golo é mais importante do que o próprio golo. Sentia-me bem a assistir os meus colegas de ataque’.

 

A metamorfose

 

‘Não consigo escolher um momento marcante da minha passagem no clube. Eu destacaria sim todo o percurso que fiz nos cinco anos que por aí passei. Foi um processo evolutivo e sinto que me tornei um homem e uma pessoa melhor nos Açores. Recordo com carinho e saudade todos os momentos que tive oportunidade de viver’.

“Dentro de cinco anos, o CD Santa Clara vai estar sempre entre os cinco melhores do futebol português.”

Não existem super-heróis

 

‘Aquela vitória (2-1) diante do FC Porto foi histórica e inesquecível. Sabíamos da força do nosso adversário. O FC Porto viria a ganhar a Taça UEFA na temporada seguinte mas acho que o segredo foi o aspeto mental. Nós nunca tivemos medo, jogamos de igual para igual contra eles. Sem medos. No final do dia, são onze homens de cada lado, uns defendem uma cor, outros defendem outra. No futebol não existem super-heróis’.

 

Força da mente vs força da tática

‘Felizmente, o CD Santa Clara está liderado por pessoas altamente competentes e profissionais. Às vezes neste tipo de jogos, o lado mental prevalece sobre a força da tática. O atleta é, quase sempre, o centro do jogo. É ele quem decide o resultado final’.

 

CD Santa Clara entre os 5 melhores

 

‘Sempre que posso acompanho os jogos do CD Santa Clara. Eu digo muitas vezes aos meus amigos aqui no Brasil que, dentro de cinco anos, o clube vai estar sempre entre os cinco melhores do futebol português. Não tenho qualquer dúvida disso. O clube tem evoluído imenso nos últimos anos’.

Regresso ao Passado – Jorge Gamboa

Há jogadores  que nascem para fazer história e para deixar marca no mundo do futebol. Jorge Gamboa é um desses casos. Chegou ao CD Santa Clara com 27 anos, depois de uma carreira dividida entre Rio Ave e SC Braga e, logo na primeira oportunidade, não perdeu a chance de deixar a sua marca no clube. Gamboa foi o primeiro atleta a marcar pelo CD Santa Clara na Primeira Liga… bisando, diante do Sporting CP de Schmeichel e companhia.

 

A ligação sentimental ao CD Santa Clara

 

‘Fico muito feliz por ter sido o primeiro jogador a marcar um golo pelo CD Santa Clara na Primeira Liga. Ainda hoje sou recordado  por esse facto e isso deixa-me bastante orgulhoso. Criei laços bastante fortes com o clube, costumo chamar-lhe de ‘cordão sentimental. Aliás, ainda tenho uma ligação muito forte à ilha e com uma vontade enorme de voltar aí novamente.’

 

‘Cliente Habitual’

 

‘Se  dissesse que pensava que iria marcar 2 golos estaria a mentir mas é sempre possível. Apesar disso, tenho de confessar que o Sporting CP era meu ‘cliente habitual’ quando estava nas camadas jovens do FC Porto. Nos seniores, a história era diferente’

‘O Santa Clara tem vindo a crescer e a ganhar mais consistência’

O derrubar do ‘Monstro’

‘Para já, marcar dois golos ao Sporting  já  é um facto relevante. Agora, ainda por cima, diante do ‘monstro consagrado’ que era  Schmeichel, ainda mais. Isto só ajudou a tornar o feito ainda mais mediático. Para além de ser extremamente competente, Schmeichel era uma grande homem com um passado de enorme respeito’.

 

Um sonho real

‘Foi uma reação  linda e inesquecível  para mim. O CD Santa Clara estava a viver um sonho, estava em lua de mel. O facto de eu ter feito os dois golos no jogo de estreia tornou-me o protagonista naquela semana a seguir ao jogo. Foi uma semana memorável  para mim. Eram fotos, autógrafos. Senti-me mesmo um verdadeiro craque (risos). ‘

 

Personalidade e Carácter para repetir a história

O mister João  Henriques saberá melhor que ninguém o que terá de transmitir aos seus jogadores. Por mim, repetia a receita do jogo diante do SL Benfica. Personalidade, carácter, qualidade e muita concentração  competitiva. A parte táctica deixo para o mister.’

 

O crescimento do CD Santa Clara

‘Penso que o clube tem vindo a fazer o que os responsáveis  pretendiam quando assumiram o projecto. Ou seja, crescer como instituição, estrutura e como equipa. O CD Santa Clara tem vindo a crescer e a ganhar cada vez mais consistência como equipa de Primeira Liga.’

Regresso ao Passado – Toñito

Bastou-lhe uma única temporada nos Açores para deixar a sua inconfundível marca. Era magia, era irreverência, era golo. Era… Toñito. O mágico espanhol chegou ao CD Santa Clara, emprestado pelo Sporting CP, em 2001/2002 e deixou uma marca indelével na história do clube.  Foram muitas as fintas, as pinceladas na bola dignas de um verdadeiro artista, os toques de requinte… mas na memória coletiva fica aquela célebre exibição diante do FC Porto, em 2001, com dois golos apontados. Os açorianos não esquecem Toñito e o espanhol não esquece o povo que o acarinhou.

 

O futebol como escape

 

‘O futebol era a única coisa que me fazia feliz na infância. Vinha de uma família humilde com sete irmãos. Vivíamos em casa da minha avó num bairro muito conflituoso. Eu conseguia-me libertar através do futebol. Era o único local onde me sentia verdadeiramente feliz. Na rua a jogar futebol, era aí o meu espaço. Tanto era assim que, um dia, quando tinha 11 ou 12 anos vieram-me convidar para jogar futebol de formação a sério. Um ano depois estava no CD Tenerife’.

 

Sair da zona de conforto

 

‘Fui crescendo na formação do CD Tenerife e aos 16 anos comecei a treinar com a equipa sénior. Quando cumpri 18 anos percebi que não ia ter muitas oportunidades na equipa principal. Foi nessa altura que um empresário (Paco Moreno), ofereceu-me a possibilidade de ir jogar para Portugal, na Primeira Liga. Não pensei mais, só queria ser profissional, não me importava mais nada’.

“Em Dezembro, o Boloni, queria-me repescar. Mas eu não podia fazer isso ao clube. Estava muito feliz nos Açores”

De Espanha para o Vitória FC

 

‘Em Setúbal tive a ajuda do mister Manuel Fernandes. Ele acolheu-me como um filho e deu-me tudo para poder mostrar o meu futebol ao mundo. O mister Cardoso foi igualmente muito importante para mim. Ambos fizeram tudo para extrair o meu melhor futebol e poder atingir todo o meu potencial. Só tenho grandes memórias dessa altura. Ainda mantenho contacto muitos amigos de Setúbal. Sem o apoio e o suporte do Vitória FC não chegaria onde cheguei na minha carreira. Só posso estar agradecido por tudo aquilo que me deram’.

 

De pé quente

 

‘Posso dizer que sou um jogador de sorte. No meu primeiro ano pelo Sporting CP, sou campeão. O Sporting não era campeão há 18 anos e, logo naquele ano, sou campeão. Depois, no CD Santa Clara, na minha única temporada, o clube atinge a manutenção, numa temporada verdadeiramente histórica. Ou seja, fiz sempre história e deixei a minha marca na maior parte dos clubes por onde passei. Considero-me um jogador de sorte ‘.

 

De novo, a felicidade

 

‘No meu terceiro ano no Sporting CP, o mister disse-me que ia ter poucas oportunidades para jogar. Então tive de procurar alguma solução onde pudesse jogar com regularidade, onde pudesse voltar a encontrar felicidade. Sinto que foi uma decisão acertada. Lembro-me que em Dezembro, o Boloni, treinador do Sporting CP, queria-me repescar. Mas eu não podia fazer isso ao clube. Estava a ser muito feliz nos Açores e tinha objetivos por cumprir’.

“Amo os Açores e levo o povo açoriano para sempre no meu coração”

‘Eu estou aqui!’

 

‘Chego ao CD Santa Clara através do meu grande amigo Hanuch. Não tinha grande informação sobre o clube mas quis arriscar, sou assim por natureza. Era uma grande oportunidade para dizer: ‘Eu estou aqui!’. Encontrei uma grande família nos Açores e a temporada em que estive no clube foi inesquecível. Naquela temporada nós tínhamos um plantel de grande nível. Todos os clubes nos respeitavam e temiam pois éramos capazes de ganhar em qualquer estádio’.

 

O calor humano dos açorianos

 

‘Lembro-me dos adeptos açorianos com muito carinho. Sentia-me muito acarinhado por toda a gente. Sentir a felicidade no rosto das pessoas é um sentimento fantástico. Fazia-me sentir especial, importante. Eu devolvia esse carinho que me davam com boas exibições, golos. Dava tudo para tentar retribuir tudo aquilo que os adeptos me davam.  Amo os Açores e levo o povo açoriano para sempre no meu coração. Infelizmente, nos dias de hoje,  só consigo acompanhar os jogos do CD Santa Clara pela Televisão e pela Internet. Gostava muito de voltar a visitar os Açores e de continuar a ajudar o clube a crescer’.

 

Super Toñito

 

‘Há dois golos que me marcam imenso. Foi quando o CD Santa Clara ganhou ao FC Porto. Marquei os dois golos do CD Santa Clara no jogo e contribuí para a primeira vitória do clube diante de um grande. Foi uma exibição mágica. Os meus companheiros do Sporting, depois do jogo, ligaram-me a agradecer pela ajuda pois assim ficavam mais próximos do título’.

Regresso ao Passado – Pessanha

Sebastião Pessanha é ‘Santa Clara’ em estado puro. Representou o clube durante mais de uma década, marcou dezenas de golos como avançado e na ponta final da carreira, enquanto defesa, evitou outros. Depois de pendurar as chuteiras, ainda treinou as camadas jovens da formação. Hoje apresenta-se como uma lenda viva da história do clube.

 

 

Luanda, Algarve e… Micaelense FC

 

‘Nasci e permaneci em Luanda até aos catorze anos. Depois fui para o Algarve e do Algarve para os Açores. Na altura, tinha eu 15 anos, já jogava com amigos no ‘Relvão’. Num destes jogos entre amigos fui convidado, por um senhor que estava a observar-nos, para ingressar no extinto Micaelense FC. Foi a minha primeira experiência como atleta federado. Guardo muito boas memórias do Micaelense FC’.

 

Um convite dourado

 

‘Depois do Micaelense FC, fui convidado a ingressar no CD Oliveirenses pelo saudoso Jaime Graça. Gostei muito de estar na Fajã de Cima. Tínhamos uma boa equipa, tínhamos um excelente treinador e havia um ambiente familiar muito forte. Depois da experiência nos Oliveirenses recebi um convite para ingressar no CD Santa Clara. O saudoso Castanha e o Eng.º Dionísio Leite convidaram-me para ingressar no clube. Na altura, ganhava três vezes mais nos Oliveirenses mas preferi ir para o CD Santa Clara não só pelos amigos que lá tinha mas também pela grandeza da instituição.’

“Sempre tive vocação para marcar golos mas naquela época tudo corria bem.”

Uma época dourada

 

‘Em 1989/1990 fui o melhor marcador dos campeonatos nacionais. Marquei 38 golos. Sempre tive vocação para marcar golos mas naquela época tudo corria bem. Até de lado marcava golos, pontapé de bicicleta, de cabeça. O facto de não ter lesões naquela temporada ajudou-me a alcançar estes números. Tínhamos uma boa equipa’.

 

O mestre Jaime Graça

 

‘Tive vários treinadores mas o que me marcou mais na carreira foi Jaime Graça. Foi o meu mestre.  Ele ensinava-me coisas todos os dias. Tecnicamente éramos evoluídos mas taticamente nem por isso. Era nessa vertente tática que ele insistia connosco. Evoluíamos muito com ele. Os treinos que nós vemos nos escalões de formação hoje em dia, eram os treinos dele na altura. Ensinou-nos muito. O Jaime era extraordinário connosco e todos guardam um especial carinho por ele’.

 

O ‘pai’ Dionísio Leite

 

‘O Eng.º Dionísio Leite foi como um pai para mim. Fez sempre tudo para que permanecesse no CD Santa Clara. Ajudou-me a mim e a muitos colegas. Aliás, foi ele que me arranjou trabalho quando tinha os meus 25 anos. Não me esqueço dele’.

“Esta direção fez regressar a mística do clube.”

Santana… como clone

 

‘Penso que o futebol não mudou drasticamente. Em termos técnicos, penso que mudou muito pouco mesmo. Do atual plantel, o elemento com mais semelhanças com a minha forma de jogar talvez seja o Santana. Tal como eu, é um elemento muito batalhador, corre muito, dá tudo ao longo dos 90 minutos. Desgasta-se muito em prol da equipa’.

 

O novo CD Santa Clara

 

‘Este presidente é fantástico. É uma pessoa dinâmica. Tem alguns críticos mas tem feito um bom trabalho. Esta direção fez regressar a mística do clube, aproximou-se mais da comunidade e, acima de tudo, não virou costas ao passado do clube, aos veteranos. É muito importante reconhecer e valorizar o passado deste clube para o poder compreender’

 

Uma atitude a não esquecer

 

‘Há uma atitude na minha carreira que nunca esquecerei pelos piores motivos. Jogava como capitão de equipa. Ia fazer um chapéu ao guarda-redes mas falhei. Fui assobiado pelos adeptos. Logo a seguir, o treinador retirou-me do onze mas não aceitei muito bem esta decisão e mandei a braçadeira para o chão. Comecei a reclamar com os adeptos. Foi a pior atitude que tive ao longo da carreira mas logo a seguir pedi desculpa a todos, publicamente’.

Regresso ao Passado – Portela

239 jogos, onze temporadas e onze golos. É este o registo de um dos mais proeminentes atletas da história recente do CD Santa Clara. Falamos de Portela, lateral direito que ascendeu ao olimpo mas que viria a descer às catacumbas do inferno com a descida de divisão em 2003. Nos bons e nos maus momentos, como se de um casamento se tratasse, Portela esteve sempre lá.

 

De extremo para lateral

 

‘Comecei nos infantis do Vitória de Setúbal como extremo direito, e continuei assim durante toda a formação. Foi já nos seniores, no Portimonense, em que devido à saída do defesa direito da altura, recuei para lateral direito como opção de recurso e assim continuei até ao fim’.

 

A viagem aos Açores como prenúncio

 

‘No verão de 97, o Vitória FC foi convidado para ir jogar às ilhas de São Miguel e Terceira contra o Santa Clara e Lusitânia, respetivamente. Depois desse jogo com o Santa Clara,  onde curiosamente joguei a lateral esquerdo, e tendo o Santa Clara necessidade de um lateral direito, surgiu o convite para ingressar no clube por parte de Manuel Fernandes, treinador do CD Santa Clara na altura. Nunca imaginei que pudesse ficar tantos anos nos Açores’.

“Fui muito bem recebido por todos. O ambiente era familiar.”

Uma nova Família

 

‘A minha adaptação foi extremamente fácil, fui muito bem recebido por todos. Na altura o ambiente era familiar. Não me esqueço do senhor Carlos Almeida,  senhor Pedro Castanheira, senhor José Botelho, também conhecido por  ‘Zé Ganso’, senhor José Luís e o presidente senhor Dionísio Leite. Há outros que foram igualmente importantes mas estes foram primordiais para o ambiente que se formou em torno do clube. Pessoalmente também tive o Figueiredo, que me ajudou bastante.

 

Onze temporadas… onze treinadores

 

‘Todos os treinadores deixam-nos marca. No Santa Clara passaram excelentes treinadores, mas também é justo dizer que o que mais me marcou e aquele cuja filosofia mais me identificava foi sem dúvida o Manuel Fernandes’.

 

Novamente… onze temporadas, onze golos

 

‘Não há nenhum que evidencie. Todos tiveram o mesmo sabor. Não é fácil um lateral direito fazer muitos golos’.

“Houve uma altura que só conseguíamos respirar.”

Dores de crescimento

 

‘O Santa Clara subiu muito rápido da segunda divisão ‘B’  à primeira divisão. Foi um crescimento muito rápido. Faltou tempo para apetrechar o clube com as condições necessárias para ter e manter um clube na primeira divisão do futebol português. Acho que o que aconteceu foram as chamadas dores de crescimento, aliada a uma época de 2003/2004 bastante má’.

 

O Cabo das Tormentas

 

‘Foi complicado gerir essa má fase do clube. A partir de certa altura houve uma grande clivagem no percurso do clube, tanto a nível de jogadores como de diretores. Muitos jogadores importantes optaram por sair do clube e a nível diretivo também houve muitas mudanças. Tudo isto levou a que o clube tivesse o seu cabo das tormentas, aliado a graves dificuldades financeiras. Houve uma altura que só conseguíamos respirar’.

 

O hambúrguer sonolento

 

‘No final da época de 1998/1999: tínhamos subido à primeira liga e fomos convidados para fazer 2 jogos, um no Canadá e o outro nos EUA. Fomos de Ponta Delgada para Nova Iorque, de seguida para Toronto. Chegamos a Toronto depois de muitas horas de viagem, dormimos e jogamos logo no outro dia. Dormimos no dia do jogo ainda em Toronto, e no dia seguinte, voltamos de autocarro para Boston. Como podem perceber o cansaço era enorme, mesmo no autocarro todos queriam descansar. Mas na comitiva que nos acolheu, havia um senhor muito bem disposto, falador e que ia fazendo de guia turístico, o que o pessoal agradeceu bastante, mas tinha um senão… falava muito alto. A meio da viagem paramos para comer, e tivemos arranjar maneira de podermos dormir na viagem até Boston. E assim foi, durante o almoço, pusemos um comprimido para dormir no hambúrguer do senhor, e foi assim que conseguimos descansar durante o resto da viagem (risos)’.

Regresso ao Passado – Barrigana

António Pedro Magalhães Batista, no futebol: ‘Barrigana’. Chegou aos Açores pela mão do técnico Manuel Fernandes, inscrevendo o seu nome na história do clube. Barrigana, médio defensivo que também atuava como central, é ainda um dos atletas com mais jogos ao serviço do CD Santa Clara e, passado tanto tempo, não esquece os adeptos açorianos e as históricas subidas de divisão.

 

Os primeiros passos no Futebol

 

‘Aos 12 anos comecei a dar os primeiros passos no futebol. Comecei a minha formação formação no Amarante FC e só saí de lá aos 18 anos para ingressar no Sporting. No início da carreira jogava mais como médio ofensivo, atrás do ponta de lança. Mais tarde, fui recuando no terreno, adaptei-me facilmente a outras posições que os treinadores me pediam’.

 

Do Amarante FC para o Sporting CP

 

‘Aos 14 anos fui campeão do torneio inter-cidades pelo Amarante. Desde aí o Sporting CP começou a observar-me. Na altura não quis ir para o Sporting para continuar a estudar. Entretanto, no meu 12º ano, num passeio de finalistas que fizemos para a zona de Cascais, na altura da Páscia, o Sr.º Manolo Vidal, ex-diretor do Sporting, viu-me e ligou ao meu pai a perguntar o que achava de eu ir treinar à experiência com os seniores do Sporting. Nesta altura, ainda era junior do Amarante e fui treinar com os seniores do Sporting. Ao fim de uma semana e meia, o Raúl Águas e o Vítor Damas vieram falar comigo e disseram que iam propor à direção para assinar contrato comigo. Assinei um contrato de três anos mas não me cheguei a estrear pela equipa principal’.

“Ninguém estava à espera que conseguíssemos subir de divisão.”

De Faro para o Tirsense

 

‘Estive quatro temporadas no Farense, altura em que a equipa estava na Primeira Liga. Foram quatro temporadas muito boas para o clube. A equipa ocupava sempre bons lugares na tabela classificativa mas sentia que jogava pouco. Depois da quarta temporada, o mister Manuel Fernandes, que eu já conhecia bem, convidou-me para ir para o Tirsense. Ele precisava de um médio e falou comigo. Foi difícil ter saído da Primeira para a Segunda Liga mas aceitei o convite e gostei muito de estar em Santo Tirso’.

 

Novamente Manuel Fernandes

 

‘Manuel Fernandes, na altura treinador do CD Santa Clara, convidou-me para ir para os Açores e fui. Tínhamos uma boa equipa com bons jogadores, o grupo era muito unido e com uma boa massa adepta mas não sonhávamos sequer com a subida de divisão. Ninguém estava à espera que conseguíssemos subir de divisão. Foi um momento especial’.

 

Fazer das fraquezas forças

 

‘Às vezes sentíamo-nos discriminados por sermos uma equipa da ilha. Mas nós fazíamos dessa fraqueza, uma força para conseguirmos derrubar esses muros. Os açorianos, em geral, são pessoas excepcionais pelas quais tenho um enorme carinho. Sempre fui muito bem recebido por toda a gente e guardo saudades dos Açores’.

“CD Santa Clara é hoje uma equipa de luta, de querer, de vontade.”

As duas subidas

 

‘A primeira subida foi histórica. Nunca pensamos conseguir subir nessa altura. Sabíamos que tínhamos um bom grupo mas o objetivo traçado pela direção nunca foi o de subir. À medida que a equipa foi amealhando pontos, começamos a sonhar que era possível. A segunda subida posso considerar que foi um ponto alto também… mas aí já tínhamos uma grande equipa mesmo, muito diferente. Era uma equipa construída e talhada para subir de divisão’.

 

O novo CD Santa Clara

 

‘O trabalho não me permite acompanhar o futebol tanto quanto queria. Mas, daquilo que tenho visto, o CD Santa Clara é hoje uma equipa de luta, de querer, de vontade. Vejo algumas semelhanças em relação à nossa forma de jogar, na temporada de estreia na Primeira Liga.  Isso deixa-me orgulhoso’.

 

A profecia de Barrigana

 

‘Há um jogo, no trajeto da subida, que não me esqueço. Jogamos contra o Sporting de Espinho que, na altura, também lutava para subir de divisão. Ao minuto 65 estávamos a perder por 3-0 e já estava de cabeça perdida. Fui pedir satisfações ao árbitro, ao que ele me disse para me preocupar com o jogo. Em dez minutos nós fizemos dois golos. Estávamos por cima na partida e, no último minuto, o Prokopenko cai na área e o árbitro nada assinala. Na mesma jogada, bola na mão do jogador do Espinho e, novamente, o árbitro nada assinala. Acabou o jogo, estávamos todos chateados. Ficávamos fora dos lugares de subida, a cinco jornadas do fim e o Espinho passava-nos à frente na classificação. O mister Manuel Fernandes vem ter comigo… também ele chateado e antes dele dizer qualquer coisa, disse-lhe que a jogar daquela forma, íamos mesmo subir de divisão. E assim foi’.

Regresso ao Passado – Brandão

Vini, Vidi… vici. Eis, Brandão. Avançado brasileiro, chegou ao CD Santa Clara com 31 anos, depois de duas passagens pelo futebol nacional, deixando uma marca indelével na história do clube. Logo na primeira temporada com as cores da região ao peito, fez balançar as redes por 24 (!) vezes, ajudando à inédita conquista da II Liga e sagrando-se como o goleador maior da competição.

 

O futebol… em Rio Grande do Sul

 

‘O Futebol, para mim, nasceu em Rio Grande do Sul, numa pequena cidade do interior chamada São Borja. Comecei muito cedo nos escalões de base da formação. Ia disputindo os torneios municipais e intermunicipais e estava a conseguir destacar-me dos outros atletas. Com 18 anos, fruto dos incentivos dos meus treinadores, vim para uma cidade maior (Caxias do Sul) e consegui ficar no clube ( Ser Caxias do Sul). Foi aí que consegui almejar o sonho de ser jogador profissional.’

“Ir para os Açores foi muito bom para a minha carreira.”

A primeira experiência em Portugal

 

‘Depois do Caxias fui contratado pelo Coritiba, um clube do Paraná, um clube grande que disputava várias competições. Comecei a destacar-me aí. Depois apareceu a oportunidade de ir para Portugal (Belenenses) através do Ademir Alcântara, que tinha jogado em Portugal e que acabou por ser o meu empresário.’

 

A ida para os Açores

 

‘Eu estava a jogar no Vitória SC. Eles disseram-me que não iam renovar comigo e eu tinha de encontrar uma alternativa para continuar a progredir na carreira. O Adir, que foi guarda-redes no CD Santa Clara, falou comigo para vir para o CD Santa Clara. Falei com alguns diretores e com o treinador do clube que fizeram força para assinar. Ir para os Açores foi muito bom para a minha carreira. ‘

 

A primeira temporada de sonho

 

‘A primeira temporada no clube foi uma das melhores na minha carreira. Adaptei-me rapidamente à região e ao clube. Consegui encaixar bem no grupo, éramos uma autêntica família. Depois penso que o segredo do sucesso foi o facto dos golos saírem naturalmente. Marquei logo nos primeiros jogos do campeonato e isso acabou por ser fundamental para trazer tranquilidade não só para mim, como para o elenco e para o clube que procurava a subida de divisão’.

 

A relação com os adeptos

 

‘Na maioria dos jogos tínhamos o estádio  lotado. Tinhamos uma torcida muito forte. Havia uma ‘charanga’, como dizemos aqui no Brasil, que fazia muito ‘barulho’. Davam-me muita força e sempre que marcava tentava ir festejar com eles. Foi também devido a esse apoio incondicional que nós conseguimos subir de divisão.’

“Na maioria dos jogos tinhamos o estádio lotado.”

Um grupo… que era família

 

‘Tínhamos um grande grupo na altura. Davamo-nos todos muito bem. Os brasileiros: o Adir, George, Sandro, Flávio Galvão, Geraldo, Vanderlei. Os estrangeiros tínhamos o Barrigana, o Toni, o Figueiredo, o Portela, o Dú, Fernando e muitos outros. Mas todos faziam parte da família. Tínhamos um grupo vencedor’.

 

O futebol atual vs o futebol de outrora

 

‘Acho que agora o futebol é muito mais tático. As equipas, os treinadores evoluíram muito taticamente. Para além disso, os jogadores hoje são muito mais robustos fisicamente. Penso que os preparadores físicos conseguem extrair muito mais do atleta hoje em dia. Acho que os jogadores atuais ganham na vertente física mas perdem um pouco na vertente técnica para os atletas de antigamente.’

 

Os novos valores do CD Santa Clara

 

‘Não tenho acompanhado o futebol em Portugal tanto quanto queria. Mas, do plantel atual, conheço bem o Lincoln que jogou aqui no Grémio e o Carlos, que jogou no Internacional. Um é meia e o outro é atacante. São dois bons jogadores, dois bons valores com muita qualidade e estão a representar muito bem o clube e a região. ‘

 

A surpresa… na festa da subida

 

‘Depois do último jogo do campeonato, em Lamas, sagramo-nos campeões nacionais da II Divisão. Estavamos todos no aeroporto e, sem nada combinado, começamos todos a pintar o cabelo, a cara,  a barba e o bigode de vermelho e branco. O grupo todo participou. Recordo-me que os adeptos não estavam nada à espera daquilo. Foi uma alegria imensa.’

Regresso ao Passado – ‘Mágico Figas’

Entrou como Figueiredo, saiu como ‘Mágico Figas’. Eis Paulo Figueiredo, médio angolano que passou pelo CD Santa Clara entre 1996 e 2004, o eterno ’10’, porventura um dos jogadores mais proeminentes do passado recente do clube. A qualidade de passe, a bola quase que magneticamente colada ao pé, a qualidade nas bolas paradas e o encarnar do espírito tão caraterístico dos ‘Bravos Açorianos’ deixam saudades a todos aqueles que o viram espalhar magia nos relvados.

 

A Infância

 

‘Tive uma infância feliz. Estudava e brincava ao futebol. A paixão pelo futebol surgiu muito cedo. Desde muito novo comecei a acompanhar o meu irmão mais velho no Desportivo Domingos Sávio, um clube de bairro de Lisboa, e acabei por começar a jogar ali com apenas seis anos. Apesar de não haver muitas equipas para aquela faixa etária’.

“Sempre defendi as cores do CD Santa Clara e dos Açores com muita vontade, muito crer.”

A família enquanto suporte

 

‘A minha família foi o meu grande suporte. A minha esposa (Vanda), a Joana, o Bruno e a Elisa que até nasceu nos Açores. Eles foram sempre o meu grande equilíbrio, deram-me estabilidade necessária para poder dar tudo pelo clube. Fizeram muitos sacrifícios por mim. Foram sempre eles que me deram a força necessária para chegar lá cima’.

 

A vinda para os Açores

 

‘Chego ao CD Santa Clara depois de ter estado emprestado pelo Belenenses ao Camacha. Era muitas vezes emprestado pelo Belenenses, era visto como uma espécie de moeda de troca. Lembro-me que fui chamado ao Belenenses depois do empréstimo ao Camacha estar concluído e informaram-me que ia ser dispensado pelo novo treinador. Quando saí dessa reunião com o Belenenses, estava o treinador do CD Santa Clara à minha espera, o Filipe Moreira, na altura, que me fez o convite para vir para os Açores. Foi a pessoa que mais força fez para ingressar no clube, tinha outras propostas mas a atitude dele fez-me querer assinar pelo CD Santa Clara e em boa hora.

 

Momentos Marcantes

 

‘As subidas de divisão foram muito marcantes. Depois da primeira subida de divisão, São Miguel e os Açorianos estavam todos na rua para nos saudar. Era mesmo um mar de gente. No ano seguinte, voltamos a subir de divisão quando nada o fazia prever. E, depois, a última subida, quando ganhamos o campeonato (II Liga) foi igualmente marcante. Foram momentos inéditos e inesquecíveis na história do clube e é difícil explicar aquilo que se viveu na altura’.

 

Pessoas Importantes

‘Há muitas pessoas importantes neste meu trajecto pelo CD Santa Clara. Desde o Sr. Almeida da direção, o Sr. Garcia, o Pedro Castanheira… os treinadores, jogadores, médicos e jogadores… e depois há duas pessoas que nunca esquecerei na vida, o Sr. Humberto Caetano e a sua esposa. Foram muito importantes para mim’.

“Depois da primeira subida de divisão, São Miguel e os Açorianos estavam todos na rua para nos saudar.”

A relação com os adeptos

 

‘Sempre defendi as cores do CD Santa Clara e dos Açores com muita vontade, muito crer. As pessoas naturalmente que reconhecem essa minha atitude e retribuem-me com imenso carinho. Tenho muito apreço, tanto pela instituição, como pelos Açores. Nunca me esquecerei dos momentos que aí passei’.

 

Mudança no CD Santa Clara

 

‘O CD Santa Clara passou por tempos muito complicados. Esta direção veio trazer organização e a estabilidade necessária para o clube. Isso refletiu-se nos próprios resultados da equipa. As prestações devem-se também a essa estabilidade que a direção conseguiu. Este CD Santa Clara tem dignificado tanto a região como a história do clube. É uma equipa muito equilibrada, que pode conquistar pontos em todos os campos e está muito bem comandada por João Henriques, a equipa está bem e recomenda-se.’

 

Uma Odisseia… com final feliz

 

‘Quando fomos jogar para a Taça Intertoto, na Arménia, fomos transportados desde Paris por um avião muito pequeno. Acontece que grande parte das bagagens ficaram atrás… em Paris. Tivemos de jogar com equipamentos emprestados pela equipa adversária (FC Shirak). A verdade é que no final do jogo, o facto de não termos os nossos equipamentos não acabou por ter muita influência no desfecho. Empatamos (3-3), o que era um excelente resultado na altura.’