Formador de atletas e de homens, carismático, visceralmente apaixonado pelo clube, lenda vida. E mesmo assim são reduzidos adjetivos para ajudar a definir a obra de Saúl Cabral ao serviço do CD Santa Clara. Chegou, primeiro como atleta mas depressa percebeu que o treino era a sua verdadeira vocação e intrínseca paixão. Homem revolucionário, à frente de um tempo que era seu, lançou uma constelação de atletas para a ribalta do futebol e foi ainda responsável por uma das conquistas mais importantes da história do clube: o primeiro troféu de campeões açorianos.
Campeão Invicto nos Juniores
Nascido no continente português, Saúl Cabral chegou aos Açores com 11 anos, apaixonando-se desde então por uma terra que viria a ser sua e deixando uma indelével marca que perdura até aos dias de hoje. O futebol, claro está, era paixão exacerbada, toldava-lhe o pensamento e colhia a sua mais profunda admiração. Primeiro, calçou as chuteiras e tentou fazer o que a mente graciosamente imaginava mas depressa percebeu que era o treino a sua verdadeira vocação. Enquanto treinador da equipa de juniores, era ele ainda bastante jovem, viria a sagrar-se campeão regional de escalão… de forma invicta. Registo marcante e histórico. Era apenas o início de um percurso soberbo.
Formador de campeões
O meritório trabalho nos juniores do CD Santa Clara mereceu um voto de confiança para assumir uma nova batuta. Era tempo de Saúl Cabral assumir o cargo de treinador principal da equipa sénior do CD Santa Clara. A partir daí e fruto da relação de proximidade que tinha com alguns atletas da formação, começam a surgir vários jovens nomes na ribalta do futebol regional e nacional, falamos de craques como: Malaco, Francisquinho, Narciso, Mariano Raposo, Floriano Machado, Armando Fontes e tantos outros que viriam a deixar uma pesada herança na história do clube. A cereja no topo do bolo viria a ser a conquista da primeira Taça dos Campeões Açorianos diante do Lusitânia, um dos clubes que mais prestígio granjeava na região na década de 70. Para além do evidente simbolismo daquele troféu, aquele momento assomou-se como um derradeiro ponto de viragem na história do CD Santa Clara. Era o CD Santa Clara que começava a ganhar asas e a voar no vasto atlântico que une e, paradoxalmente, separa as nove ilhas do arquipélago pela mão do navegador Saúl Cabral.
Futebol no Canadá
Para além do futebol, a família. Depois de ter conquistado a imortalidade no CD Santa Clara, era altura de abraçar novos desafios. Os acasos da vida aliados à importância de estar perto da família e ao surgimento de um ambicioso convite, levam-no ao Canadá, numa altura em que o futebol tentava ganhar expressão na América do Norte. Apesar de sentir algumas dificuldades em adaptar-se a um futebol ainda distante daquele pelo qual se tinha apaixonado, mais frio e sensaborão, consegue deixar uma herança profunda no futebol norte-americano contribuindo para uma maior profissionalização da modalidade no país da Maple Leaf.
Tão perto… de tão longe
Apesar de distarem mais de quatro décadas desde que se encontra radicado no continente americano, Saúl Cabral não deixou de viver bem de perto a realidade dos Açores e da instituição que aprendeu a amar. Tem sido um dos principais embaixadores e impulsionadores do clube na diáspora, prestando ainda um importante contributo aquando das digressões e viagens institucionais realizadas pelo CD Santa Clara ao continente americano. Por vezes, quando já saturado do frio que congela e assola a alma, regressa aos Açores, a sua casa. É uma lenda viva, uma das maiores da história do futebol açoriano.