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Regresso ao Passado- Clayton

Chegou aos Açores como um desconhecido e saiu como herói, figura, mito. Nove golos depois da estreia, meio mundo de olhos postos no brasileiro de Minas Gerais. Clayton era poeta virtuoso, Vinícius de Moraes no pé esquerdo e um gingar canarinho, uma finta de corpo só ao alcance dos verdadeiros predestinados. Apesar de distarem já duas décadas desde a sua passagem pelos Açores, o perfume da sua fugaz passagem ainda perdura.

 

O convite da vida

 

‘Eu jogava no Brasil. Jogava no Atlético Mineiro, um clube com uma certa estabilidade mas recebi uma proposta do mister Manuel Fernandes através de um empresário para ir jogar para os Açores. Foi, sem dúvida alguma, o convite da minha vida. Fiquei contente e tinha vontade de ter esse desafio. Ir para a Europa. Era o momento. Eu estava muito bem e não pensei duas vezes naquela ocasião e aceitei de forma firme’.

 

O conforto da Ilha

 

‘Eu, no início, nem tinha ideia de que ia viver numa ilha. Eu estava focado em jogar futebol naquela situação. Quando cheguei aos Açores fui bem recebido, era muito jovem. Sentia-me mesmo em casa e estava acostumado com um meio menor e com pessoas mais simples, mais dadas, um relacionamento mais familiar. Todos me acolheram muito bem. Notava que estavam hesitantes a tentar perceber quem eram aqueles jogadores que estavam a chegar de tão longe.  Na altura vim com o George. Ele ainda era mais novo do que eu e éramos ambos apostas do mister Manuel Fernandes que nos tinha visto no Brasil. Foi uma surpresa para todos’.

‘Eu sentia a ilha, eu sentia o povo’.

A rápida adaptação

 

‘As pessoas da direção fizeram de tudo para nos ajudar, não mediram esforços.  E também a comissão técnica, receberam-nos todos muito bem. O Manuel Fernandes marcou-me muito, ensinou-me tudo, parava treinos por minha causa. Pegava muito no meu pé mas sempre para me ajudar a crescer.  A adaptação foi muito rápida. Eu tinha muita facilidade em jogar naquele esquema que tinha sido montado. Eu ,o George e o Gamboa na frente, o Figueiredo a 10, depois tínhamos o Barrigana, Telmo. Tínhamos uma linha defensiva forte e depois apostávamos na velocidade na frente de ataque. Era um plantel composto por um misto jogadores mais rodados e batidos no campeonato e tínhamos os que já tinham estado na Segunda liga e vários jovens a aparecer’.

 

A responsabilidade de representar um povo

 

‘Há vários momentos marcantes. Eu sentia a ilha, eu sentia o povo. Todos me procuravam nas ruas, nos cafés. Passaram a confiar e a acreditar muito em mim. Depois da vitória de 5-0 diante do Rio Ave FC,  as pessoas passaram a acreditar muito em nós. Isso marca muito a vida de qualquer atleta. Eu sentia-me muito importante, sentia-me especial por carregar comigo aquela responsabilidade. Eu dizia para mim essa gente precisa que treinemos e façamos o máximo pelo clube’.

 

A inevitável saída para o FC Porto

 

‘A minha saída naquela altura era natural porque eu estava a atravessar um momento muito bom. Várias equipas do país e do estrangeiro procuravam-me. Na altura, não tinha empresário e acabei por assinar com Jorge Mendes para ser meu empresário que tinha a melhor proposta para mim: o FC Porto. Eu já via o Porto com muito bons olhos. Era a equipa que disputava campeonatos nacionais e internacionais. Tive de deixar o CD Santa Clara naquela altura. Apesar disso, o CD Santa Clara marcou a minha vida. Tenho um carinho enorme pelo clube’.

‘Esse clube representa os Açores, representa gente guerreira, gente de luta, gente de bravura mesmo’.

Bravo açoriano de coração

 

‘O percurso do CD Santa Clara tem-me dado gosto. Tenho acompanhado muitos jogos com vários amigos. Eu digo para eles que foi aquele clube que me lançou para o futebol europeu. O CD Santa Clara hoje está noutro patamar. O clube está mais estável e tem tudo para se manter nesse nível durante muitos anos. Estruturam-se bem e estão a levar as coisas de forma profissional. Esse clube representa os Açores, representa gente guerreira, gente de luta, gente de bravura mesmo. Açoriano é isso. A partir de agora o clube tem de se alicerçar cada vez mais e depois começar a sonhar. É esse o patamar que esperamos. Sou um torcedor ferrenho (Risos)’.

 

Nostalgia do regresso

 

‘Os Açores marcaram a minha vida. Sempre tive muita vontade de voltar aos Açores. Eu quero fazer uma visita depois dessa pandemia. Quero muito voltar aonde cheguei. Voltar aquele campo, voltar aquele relvado, sentir aquela sensação fantástica de toda a vez que entrava no relvado. Abraçar as pessoas que me ajudaram naquela época, poder rever cada um. Os amigos que fiz aí, quero revê-los, por gratidão mesmo. Quero sentir aqueles ares de perto, novamente’.

 

A fuga dos empresários

 

‘Quando eu cheguei, não tinha contrato assinado ainda. Percebi que eles queriam-me observar antes de assinar contrato. Chego nos Açores e uma semana depois vamos para o continente. Eu comecei a fazer golos em jogos amigáveis. A partir do quarto jogo, houve uma pessoa do clube que me levava pelo braço com medo dos empresários (risos). Houve situações em que me levavam do balneário para o autocarro para que ninguém falasse comigo. Depois, naturalmente, assinei contrato. Essa história foi muito engraçada’.